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24/05/2022 às 19h31min - Atualizada em 25/05/2022 às 00h00min

Educação domiciliar: barreira para o desenvolvimento do ser humano?

Vânia Aparecida da Costa, diretora acadêmica da FAEP, comenta sobre essa polêmica modalidade de ensino e a relevância da escola como lugar de desenvolvimento das competências socioemocionais do aluno

SALA DA NOTÍCIA Mariana Mascarenhas

Imagem: Pixabay

“Crianças e adolescentes são sujeitos de direito – e não objetos de propriedade dos pais.” Essa foi a nota emitida pelo Fundo das Nações Unidas (Unicef), no dia 20 de maio, dois dias após a Câmara dos Deputados ter aprovado o texto-base do projeto sobre educação domiciliar, conhecida como homeschooling. Embora o projeto ainda deva passar pela avaliação do Senado, entre outros trâmites, a aprovação acionou um sinal de alerta em muitos profissionais da educação, que veem tal formato de ensino como um grande retrocesso na formação do ser humano.

Implantado em diversas partes do mundo, antes do surgimento das escolas, que se popularizaram em meados do século XX, o ensino doméstico era restrito apenas às elites. Atualmente, esse modelo educacional está presente em 60 países, segundo dados da Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), e vem dividindo opiniões a seu respeito. O projeto de lei em tramitação aqui no Brasil defende que a criança possa ser instruída em casa, pelos próprios pais inclusive, desde que eles tenham ensino superior completo.  O tema ganhou ainda mais força depois que crianças e adolescentes foram obrigados a trocar a sala de aula pelo ensino à distância no período da pandemia.

A questão é que, no período pandêmico, os estudantes eram instruídos pelos seus professores, seguindo uma grade curricular, e, assim que a pandemia amenizou, eles voltaram para a sala de aula. Mas, na educação doméstica, a situação é diferente: eles poderão ter apenas um instrutor, sem qualquer interação social com professores e colegas de classe. Para Vânia Aparecida da Costa, diretora acadêmica da Faculdade de Educação Paulistana (FAEP), não há como pensar em educação sem interação:

“Ensinar vai muito além de transmitir conteúdo. A educação deve envolver o desenvolvimento de competências socioemocionais da criança. Para isso, o espaço escolar se revela fundamental como o grande laboratório da vida. Portanto, privar os pequenos desse ambiente, por meio do ensino doméstico, é impedir o avanço dessas habilidades. ”

A diretora ressalta, inclusive, que a interação é elemento-chave para o desenvolvimento das dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), referência obrigatória para elaboração dos currículos escolares das instituições públicas e privadas da educação básica.

 Assim, segundo Vânia, a educação necessita sempre priorizar o desenvolvimento humano e integral de cada ser humano, respeitando suas individualidades. “Essa é a visão da Pedagogia Waldorf, desenvolvida pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, a qual defende práticas educativas que associam habilidades corporais, cognitivas e emocionais.”

Dessa forma, essa proposta pedagógica prepara o aluno desde a infância para a formação de uma visão crítica de mundo. Na educação infantil, por exemplo, educadores realizam diversas atividades como o cuidado com o jardim, a modelagem infantil, a organização dos próprios brinquedos, sempre considerando e compreendendo as habilidades e aprendizagens de cada um.

Conforme a criança cresce, a proposta se concretiza de outras formas, principalmente após os 15 anos, quando o adolescente começa a desenvolver sua própria compreensão de mundo e a organizar a vida. O assunto, inclusive, foi tema do encontro A Pedagogia Waldorf no Ensino Médio: contribuições para a educação contemporânea, transmitida pelo canal do YouTube da FAEP para pedagogos e estudantes de pedagogia de modo geral.

Durante o evento, Allan Gonçalves, professor na escola Waldorf Francisco de Assis, docente e pesquisador na Faculdade Rudolf Steiner, abordou, entre diversas outras questões, como a pedagogia Waldorf trabalha os conteúdos do ensino médio a partir das próprias vivências dos educandos, priorizando o estabelecimento de relações. De acordo com Gonçalves, isso é fundamental para essa fase de aprendizado do aluno, pois, se antes ele olhava para a cidade, por exemplo, como um lugar onde pessoas trabalham, a partir de então ele passa a perceber outras questões como a diferença de classes sociais.

A partir de todas as considerações levantadas, fica o questionamento: o homeschooling realmente trará algum benefício para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente?

Para acompanhar a palestra ministrada por Allan Gonçalves na íntegra, clique aqui

 


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