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21/12/2019 às 15h00min - Atualizada em 21/12/2019 às 15h00min

Sonho que se sonha junto: pais se emocionam com "filme da vida" de Ítalo Ferreira

Globo Esporte

A ficha parece não ter caído. A pacata e paradisíaca Baía Formosa, a 98 km de Natal, tem um campeão mundial de surfe. A alegria pelo feito do filho ilustre está estampada no rosto de todos da pequena cidade de 8 mil habitantes, no litoral Sul do Rio Grande do Norte. Entre sorrisos e lágrimas, o orgulho de quem acompanhou todos os passos do surfista de 25 anos. Os pais foram os maiores incentivadores e fiéis escudeiros em todos os momentos da carreira.

Ítalo Ferreira conquista o título da Liga Mundial de Surfe

- Chorei bastante. É um sonho dele e da família, principalmente dos pais, que torcem muito, oram. Não estamos nem acreditando ainda. Foi tão rápido... Ítalo entrou no circuito em 2015 e quatro anos depois já foi campeão mundial. Tem surfista que passa 10, 15 temporadas e não consegue ganhar uma etapa. Ele é um surfista muito polivalente. É a palavra mais certa - declarou Luizinho Pescado, pai de Ítalo.

 

Em 2015, durante a etapa do Rio de Janeiro, Luizinho chegou a ser internado após passar mal - sofre de hipertensão - e, desde então, costuma tomar remédio antes de acompanhar as provas do filho.

- Ele (Ítalo) gosta de coisas difíceis. Não foi à toa que ele pegou (Gabriel) Medina na final. Foi um teste difícil, mas deu certo. Sempre que eu assisto às baterias eu tomo um chá de camomila para acalmar, mas não foi nem preciso. Ele liderou a bateria do início ao fim. Não deixou a gente sofrer - completou.

A emoção de ver o filho campeão do mundo já vem acompanhada daquela velha cobrança que todos os pais fazem após uma conquista. Seu Luizinho agora quer o ouro olímpico.

- Você merece tudo isso que está acontecendo. Você saiu de casa com 12 anos de idade. Tem 25. São 13 anos fora de casa, correndo atrás dos seus objetivos e alcançou o seu primeiro objetivo. Agora falta a Olimpíada. Nosso próximo campeão olímpico vai ser Ítalo Ferreira - falou.

Seu Luizinho prefere não citar nomes, mas agradece a todos os amigos que ajudaram Ítalo no início da carreira, no tempo das vacas magras. Era difícil juntar recursos para competir fora de Baía Formosa. Hoje, ele conta, sabem reconhecer quem realmente esteve ao lado do surfista e da família.

A história da brincadeira com a tampa de isopor já foi contada por diversas vezes nos últimos dias, mas também é motivo de orgulho.

- Eu tinha um comércio de peixe e, enquanto me esperava, ele pegava a tampa da caixa de isopor e ia para a praia do Porto. Ficava brincando. Às vezes, vinha chorando porque quebrava uma, e pensava que eu ia bater nele - comentou.

Apesar da distância, já que Ítalo saiu de casa aos 12 anos para morar em São Paulo, Luizinho ressalta que o filho sempre foi bastante apegado à família e à cidade de Baía Formosa, de onde não pretende sair.

- O momento mais difícil da carreira de Ítalo foi a primeira viagem para o México. Ele tinha 12 anos. Não estava preparado para sair pro mundo, mas a gente ensinou a ele tudo certinho. Ele, como bom aluno, pegou tudo fácil e até hoje todo mundo gosta dele - lembra.

- Ele cuida bem de pai, de mãe, de namorada, de irmã, de primo. Ele cuida de tudo. É o melhor filho do mundo. Eu não canso de dizer que Ítalo é o cara. Melhor presente de Natal de todos que eu passei vai ser receber meu filho. Baía Formosa está de braços abertos para receber o nosso campeão mundial - completou.

A festa, por sinal, está sendo preparada para segunda-feira. A expectativa é que Ítalo desembarque em Natal pela manhã, desfile em carro aberto pelas ruas da capital potiguar e depois siga para Baía Formosa.

 

Valeu a pena

Dona Katiana Ferreira, mãe de Ítalo Ferreira, também se emocionou bastante com a conquista da última quinta-feira. Um filme passa na cabeça a cada vez que recebe um abraço, uma ligação ou que vê o filho na TV. Ele é campeão mundial. E ela nunca deixou de acreditar nisso.

- Era um sonho dele e da gente. Ele dizia: 'Mainha, um dia eu chego lá. Um dia quero ser campeão mundial'. Eu respondia: 'Batalha. Foca no que você quer que vai acontecer'. E está aí. Foi muito difícil chegar onde chegou. Ele enfrentou muitas barreiras, mas conseguiu - recorda.

Quando Ítalo era mais novo e não tinha patrocinadores, era Katiana quem ia às ruas com o filho para pedir contribuição em dinheiro para as viagens para as competições.

- A gente ia nos supermercados, nas casas dos tios, e fazia a vaquinha. Quando não dava para completar, o pai tirava do ganho do peixe e eu mandava ele ir. Aquele dinheiro fazia muita falta em casa - disse.

Aos 12 anos, Ítalo foi descoberto pelo experiente técnico e empresário de surfe Luiz "Pinga" e foi morar em São Paulo. Essa história quase foi interrompida.

- Uma vez ele falou para mim: 'Mainha, eu pensei em desistir, mas quando lembro o que a senhora e painho passaram para eu chegar aqui, isso me dava mais garra para lutar'. Emociona muito. Todo esforço valeu a pena - conta.

Katiana também lembrou de um período que chegou a morar em Natal com Luizinho. Ítalo permaneceu em Baía Formosa com a avó. A mãe do surfista economizava a passagem de ônibus e ia a pé para o trabalho.

- Eu trabalhava numa escola. Eu vendia o vale-transporte e ia a pé para o trabalho para trazer as coisas para ele. A gente ia a pé todos os dias para trazer dinheiro para ele no fim de semana. Foi uma das coisas que fez ele botar na cabeça para ir em frente. Eram uns 2 km. Ele sabe. Foi uma das coisas que fez ele não desistir - concluiu.

 


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