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17/12/2019 às 09h31min - Atualizada em 17/12/2019 às 09h31min

Ex-dançarino da Xuxa sai das dívidas, vira investidor e dá palestras de finanças

Fly se divide entre o trabalho como diretor na TV Globo, empreendedor cultural e palestrante na área de finanças

Fama e dinheiro. Há quem pense que essa é a fórmula binária para acabar com os problemas financeiros. Mas às vezes pode ser um jeito de aprofundá-los. Foi o que aconteceu com o ex-dançarino do programa da Xuxa na década de 1990, Vagner Pereira, mais conhecido como Fly.

O adolescente criado no morro da Mangueira começou a trabalhar como encerador de chão da vizinhança, vendedor de ferro-velho e depois foi empacotador de supermercado. Metade do dinheiro ia para mãe, a outra gastava com coisa de menino.

“Comecei a ganhar meu salário, ter benefícios, entender o que era CLT. Com meu primeiro salário levei minha mãe na loja de construção e fiz um crediário. No meu primeiro salário já me endividei. Paguei direitinho, mas estava endividado. Minha renda estava toda comprometida. Eu passava cheque de R$ 5, de R$ 10”, relata.

Aos 14 anos, queria impressionar o pessoal (as meninas) do bairro. Queria ostentar, ter um pouco de tudo que via nas propagandas. Coisa da boa. A vontade de ter tudo de uma vez só aumentou quando veio a fama. O primeiro cachê de dançarino, lembra, foi de R$ 10, dividido para quatro meninos. Naquele dia, percebeu que podia viver, sim, da arte.

Dali em diante, emplacou no grupo de dança "You Can Dance", estampou o rosto na televisão, em posters e cartazes pelo Brasil. Comprou tudo que tanto quis, mas os pais nordestinos, de baixa escolaridade, nunca puderam dar. Ajudou a família, quitou até dívida do pai com agiota.

“A gente trabalhava com a Xuxa, mas não vivia como ela. Terminava o programa e voltava para o morro. Depois que convenci a produtora a nos contratar, começamos a ganhar muito dinheiro. Saí de casa e minha mãe quase infartou”, diz.

Com a mãe que fazia bico de tudo, manicure, faxineira, vendedora, aprendeu a ganhar dinheiro, a importância de trabalhar. Mas nunca soube o que era gastar com responsabilidade. E assim gastou, gastou muito mais do que podia.

Comprou carro caro, artigos de luxo que não tinha condições de manter. E quando passou o auge da fama, as coisas só pioraram. Foi perdendo, um a um, os bens. Chegou a morar de favor. Precisou pegar dinheiro emprestado com banco, amigos.

“Quando se descobre o sucesso e o dinheiro, quem não tem nada quer ter tudo. Fui conquistando coisas que eu não podia manter. Fiquei tão endividado: devia no cheque especial, devia prestação de carro, aluguel, só não tinha agiota. Não tinha mais dinheiro. É muito fácil obter as coisas. O difícil é manter”, afirma.

Saindo da dívida

A volta por cima demorou para acontecer. Ele conta que decidiu cursar a faculdade, já que uma parte era financiada pela emissora, onde ainda tinha contrato. Já não queria depender dos altos e baixos da carreira artística. "No ensino superior, foi a primeira vez que ouviu falar em educação financeira."

Para passar na disciplina e não perder a bolsa de estudos, leu livros sobre o assunto. Tudo mudou. Bolou um plano para a hora de correr do prejuízo. Montou cursos de dança em outras regiões, foi se reerguendo. Aprendeu a negociar com os credores e só depois de quatro anos conseguiu quitar as dívidas.

“A parte mais difícil foi negociar com as instituições. Eu tinha dinheiro na mão. Temos que usar as instituições financeiras a favor e não contra. Eu ia quitando no ‘dinheirão’ mesmo. Eu dava aula e ganhava R$ 10 mil e ia pagando”, afirma. Há 15 anos não atrasa nenhuma conta.

Ele explica que anota tudo que entra de dinheiro e tudo que sai. Sabe exatamente quanto gastou com a filha, do dia em que soube que ela viria ao mundo até hoje. Junta todos os recibos. Não tem sofisticação. É na ponta do lápis mesmo. Ele diz que sempre soube ganhar dinheiro, mas teve de se esforçar para aprender a gastar do jeito certo.

“Para sair da dívida, não tem fórmula mágica. É trabalhar e ir pagando mesmo. Hoje sou investidor de imóveis, Tesouro Direto, fundos imobiliários. Não sou investidor agressivo. Vou aos poucos. Agora eu penso na minha aposentadoria. E eu consumo também. Não faço economia doméstica, se quero uma coisa e posso pagar, compro. Tem que viver também”, diz.

Hoje atua como diretor da Rede Globo (é funcionário há 30 anos), é empreendedor cultural e palestrante de educação financeira. Segundo ele, sua empresa Fly Produções se sustentou por um bom tempo com capital próprio. Com aulas de dança e o emprego na emissora, conseguiu manter o empreendimento.

As palestras também rendem uma grana extra. Em 2013, lançou até um livro "Como saí do buraco: desafie também os seus limites" (R$ 13) em coautoria com a roteirista Isadora Andrade. Se um dia tiver de sair de vez da televisão e da esfera artística, revela, vai viver do mercado financeiro investindo e ensinando os outros como cuidar melhor do dinheiro.

 

Dicas do Fly:

  1. Não gaste mais que você ganha. Viva dentro da sua realidade

  2. Respeite o seu dinheiro. Se você respeitar, todo mundo vai respeitar

  3. Não tenha vergonha por estar endividado. Faz parte da vida moderna, muita gente passou ou está passando por isso

  4. Procure ajuda. Ninguém consegue sair sozinho. Vai na defensoria pública, por mais que dê trabalho. Entre na Justiça, peça uma revisional [das multas e juros]

  5. Não tenha medo de cobrança

  6. Não pegue dinheiro com agiota, nunca faça isso

 


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