Nos últimos meses, representantes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da mineradora Vale acertam os detalhes do processo que visa antecipar a renovação da licença de concessão da ferroviária Vitória-Minas. A licença atual vence em 2026 e a renovação exige contrapartida.
O que vinha sendo costurado até aqui - inclusive com a participação da bancada federal capixaba - era a construção de uma nova ferrovia entre Vitória e Presidente Kennedy, no Sul do estado, já de olho no futuro Porto Central, um investimento estratégico para descentralizar o desenvolvimento econômico do ES.
Melhorar a logística no litoral sul é um arranjo que vem sendo costurado pelo governador Paulo Hartung junto com a bancada federal há pelo menos um ano e meio. Costura que já rendeu reuniões de Hartung com Temer e trouxe técnicos do Governo Federal ao Espírito Santo a fim de estabelecer prazos ao compromisso.
Mas, de acordo com o senador Ricardo Ferraço (PSDB), tudo isso está prestes a ir por água abaixo. Em entrevista ao Folha Vitória no início da noite desta segunda (02), Ferraço disse que está em curso uma negociação totalmente contrária aos interesses do Espírito Santo. Segundo ele, por meio da ANTT, a União propõe agora que a Vale invista na construção de uma ferrovia no Centro-Oeste do país, e não mais no estado. Trata-se da EF 354, um projeto antigo denominado Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste), com 383 km de extensão, entre Campinorte (GO) e Água Boa (MT).
Ferraço definiu a decisão como um "gol de mão", e se disse surpreso. "Além de uma quebra de compromisso, nos surpreende também porque todos os impactos da concessão da Vitória-Minas, sejam ambientais, sociais ou econômicos, ocorrem aqui na nossa região. Não faz sentido o Espírito Santo ficar com os impactos e o Centro-Oeste com os benefícios da contrapartida", disse o parlamentar capixaba.
O tucano, que pegou um voo para Brasília logo após a entrevista, pretende se reunir com o presidente da república ainda na terça (03) para pedir explicações e buscar reverter a decisão. "Não podemos e não vamos permitir essa violência e essa covardia", desabafou. Ferraço não descarta acionar a Justiça se o diálogo não surtir efeito, com uma ação civil pública, uma ação popular ou até mesmo um decreto legislativo para sustar a decisão.