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31/07/2019 às 09h28min - Atualizada em 31/07/2019 às 09h28min

Muito comovente, diz arquiteto que montou gangorra na fronteira entre México e EUA

Ronald Rael trabalhava na ideia havia 10 anos e conseguiu colocá-la em prática na terça-feira (30). Ele diz que funcionou exatamente como havia planejado, e explicou ao G1 por que o brinquedo é rosa.

G1

Na terça-feira (30), crianças e adultos de Estados Unidos e México se reuniram em volta de um trecho da cerca que separa os dois países. O motivo: três gangorras rosas, montadas ali pela equipe do arquiteto Ronald Rael e da designer Virginia San Fratello.

 

“Na hora, foi só muito divertido”, contou Rael, em entrevista. “Foi da forma que pretendíamos: um jeito de juntar as pessoas”. Quando levaram a gangorra embora, "todo mundo queria que ficássemos mais tempo”, contou.

A equipe não chegou a pedir nenhum tipo de autorização para montar o brinquedo, mas nenhum soldado - mexicano ou americano - tentou impedi-los, relatou o arquiteto. Alguns até sorriram.

O próprio Rael ficou do lado mexicano, em Ciudad Juárez, cidade que vai até bem perto da cerca. Ali, segundo conta, há uma comunidade bastante ativa de mães e crianças brincando. Juntá-las foi fácil.

“[A gangorra] foi uma resposta para pensar em como a fronteira é um lugar onde há um grau de desigualdade, desequilíbrio - tanto laboral, do trabalho, como humanístico", explica Rael, que ensina na Universidade da Califórnia em Berkeley.


Ele explicou que a equipe trabalhava na ideia desde 2009 - três anos depois de a construção da cerca ser autorizada pela "Lei de Cerca Segura", sancionada pelo então presidente George W. Bush.

"Nós gostamos da ideia de uma gangorra: quando adotamos certas ações de um lado, elas têm consequências diretas do outro - assim como nas relações com nossos vizinhos. É a ideia da brincadeira falando de ações políticas. Serve para as pessoas sentirem essas interações", disse Rael.

Como parte da equipe de Rael do lado americano, perto da cidade de El Paso, no Texas, estava Kate Green, curadora sênior do museu de arte da cidade. Do lado americano, as pessoas tinham sido avisadas e convidadas com antecedência para a instalação.

"Foi um momento importante para unir esses dois lados -que estão separados de tantas formas - de um jeito alegre", disse. "A uma milha [1,6km] dali, uma cerca privada está sendo construída, então o lugar vem sendo consumido com muitos jeitos negativos de pensar sobre a fronteira", declarou Green.

 

Apesar da proximidade com a cerca - e da lembrança do muro que o presidente Donald Trump quer construir ali - a curadora explica que ninguém estava pensando nisso.

"Nós estávamos concentrados no momento feliz: foi muito esperançoso, principalmente para as crianças no lado mexicano. Dava para ver o quanto elas queriam se conectar", narrou.

O próprio Rael acha bom que a discussão sobre as barreiras entre os dois países, que ele rejeita, estejam voltando à pauta. Ele lembra, entretanto, que a construção delas não foi ideia de Trump.

"A cerca vem sendo construída com autorizações de governos anteriores, e não se fala nela há 12 anos", afirma. "A ideia [do muro] não é de Trump, vem acontecendo há um tempo".

 

O rosa

O arquiteto explicou que o rosa foi escolhido por causa do contraste que simboliza com o entorno. A cor também serviu de lembrança para a época de violência em Ciudad Juárez, principalmente nos anos 90, em que várias mulheres foram mortas ou despareceram.

"As áreas de fronteira são áreas de contrastes - e o rosa faz contraste com o lixo, o deserto, o metal. É muito brilhante, traz alegria”, explicou.

Rael ainda estuda a possibilidade de colocar o brinquedo em outros lugares da fronteira.

“Há bem poucos lugares onde é possível passar o material através da cerca”, disse. “Eu imagino se há oportunidade de fazer isso em outro lugar. Nós estamos conversando, nos perguntando sobre isso”.

 


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