A espécie é agora a segunda que compõe o gênero Luetkenotyphlus. A primeira foi descrita há 168 anos, sendo agora as únicas duas espécies conhecidas neste gênero. Os registros da espécie foram feitos inicialmente durante inventários de anfíbios e répteis na Mata do Ouvidor, em Itapemirim. A primeira pessoa que teve o contato com essa espécie na Mata do Ouvidor foi o kenndense Rafael Santos (foto), morador da localidade de Rio Preto, interior do município. Rafael é estudante do Centro Universitário São Camilo. Ele é um dos 11 autores do artigo que publica a nova espécie de anfíbio.
Após a descoberta, foi incluída no inventário de anfíbios e répteis do Monumento Natural Serra das Torres, ambos em projetos compostos pelos mesmos pesquisadores. A parceria para a descrição taxonômica e da espécie foi feita com o Dr. Adriano Maciel, do Museu Paraense Emilio Goeldi que liderou as avaliações genéticas e morfológicas desta espécie até então desconhecida para a ciência.
Segundo a Dra. Jane C. F. de Oliveira que coordenou a expedição na Serra das Torres, onde foi obtido o maior número de registros da nova espécie, a Serra das Torres já revelou em estudos anteriores feitos, também pela equipe, a importante biodiversidade que tem guardada em suas florestas.
“Outros importantes estudos foram publicados para o Monumento, mas esta é a primeira espécie nova descrita para a Unidade e a primeira deste gênero que é endêmica do Espírito Santo. Luetkenotyphlus fredi mostra o quanto as matas da Serra das Torres são importantes para preservar espécies raras”, disse.
A pesquisadora afirmou ainda que a espécie nova encontrada na Serra das Torres a na Mata do Ouvidor parece estar associada a florestas preservadas, pois é um anfíbio que vive enterrado entre as folhas e a terra e que depende portanto de uma camada de folhas e de umidade adequada para sua existência.
“Na Serra das Torres a espécie foi encontrada nos municípios de Atílio Vivácqua e Mimoso do Sul, mas é provável que esteja distribuída em toda a região preservada do Monumento. Na Mata do Ouvidor ela foi encontrada apenas uma vez em uma parte preservada da mata. Nossa descoberta destaca a importância de estudos científicos para levantamento e conservação da biodiversidade, particularmente em tempos de regressão de políticas públicas relacionadas ao meio ambiente do Brasil”, explicou.
O Agente de Desenvolvimento Ambiental e Recursos Hídricos do IEMA, Guilherme Mendonça, destaca que essa descoberta reforça a importância da conservação do Monumento Natural Serra das Torres. “Pelo tamanho e relevância de sua cobertura florestal, as pesquisas ainda são relativamente escassas, contudo as que vêm sendo feitas têm confirmado a importância dessa Unidade de Conservação para conservação no Espírito Santo”, destacou.
Importância da descrição desta espécie
Luetkenotyphlus fredi é até o momento endêmica do estado do Espírito Santo e restrita às duas localidades onde foi encontrada (Mata do Ouvidor e Serra das Torres), ou seja, esta espécie não é conhecida em nenhuma outra parte do mundo até agora. A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas do mundo em biodiversidade e hoje é considerada um dos biomas mais ameaçados do planeta. A descoberta de uma nova espécie, reforça a necessidade de conservação dos remanescentes florestais do Bioma e indicam que podemos ter perdido espécies antes mesmo de conhece-las. Por isso, é essencial manter florestas preservadas em áreas protegidas, como o Monsat, além de fragmentos bem conservados em áreas particulares como a Mata do Ouvidor.
Nome da espécie
Luetkenotyphlus fredi é uma homenagem ao biólogo Dr. Carlos Frederico Duarte Rocha (Fred Rocha) pela sua imensa contribuição aos estudos de ecologia de anfíbios e répteis no Brasil e o Mundo e pelos significativos esforços para a conservação da Mata Atlântica.
Riqueza de Cecílias do mundo
As Cecílias são anfíbios, geralmente, difíceis de serem encontrados na natureza devido a seu hábito fossorial, ou seja, estão quase sempre escondidos no solo, e o único método até agora eficiente para coletá-los é cavando com enxadas ou ferramentas semelhantes, o que não é normalmente utilizado em levantamentos herpetológicos. Esta é a Cecília número 2013 do Mundo, e dez delas foram descobertas pelo taxonomista Adriano Marciel, vinculado ao Museu Paraense Emilio Goeldi e parceiro deste estudo.
Outros estudos importantes na Serra das Torres
Entre 2009 e 2012 outros estudos importantes foram publicados também sob coordenação da Dra. Jane de Oliveira, alguns deles destacam um dos menores sapos do mundo e o menor do Brasil encontrado pela primeira vez nos limites desta Unidade de Conservação, conhecido como Sapo-Pulga (Brachycephalus didactylus) e que embora já fosse conhecido no estado do Rio de Janeiro foi encontrado pela primeira vez no Espírito Santo, e até hoje continua sendo o único fragmento de floresta neste Estado onde encontramos este sapinho. Foi também o caso de outros dois anfíbios, Zachaenus parvulus ePhasmahyla guttata, que também eram conhecidos em outras localidades do Brasil, mas que continuam sendo os únicos registros para o Estado. Estas espécies também estão associadas a florestas preservadas e mostra o bom estado de conservação da Serra das Torres. Uma outra publicação mostrou que a combinação de profundidade da camada de folhas depositadas no chão da floresta e a cobertura do dossel são fatores que permitem a manutenção de espécies de anfíbios sensíveis a mudanças na conservação da floresta.
Os artigos com a publicação da nova espécie e das demais citadas podem ser consultados nos links:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0044523119300786
https://biotaxa.org/cl/article/view/8.2.242
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00222933.2013.769641
Projetos atuais
Os estudos que revelaram a espécie nova aqui apresentada ainda estão em andamento, sob coordenação da Dra. Jane C. F. de Oliveira que realiza outros estudos na Serra das Torres como o inventário dos répteis, dos anfíbios e ainda estudos que devem descrever outras espécies. A Mata do Ouvidor também continua sob estudo de inventário coordenado por um dos autores, o biólogo Thiago Marcial de Castro.