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28/06/2015 às 11h46min - Atualizada em 28/06/2015 às 11h46min

Capixabas têm mais câncer que o resto do Brasil

Taxas em 2014 no Estado foram maiores que média nacional

Gazeta Online
Tirei a possibilidade de morte da cabeça, tomei os remédios e fiquei bom. Está tudo controladíssimo". Virgílio Pereira Santiago Filho, 74, que enfrentou câncer de próstata há quase dez anos. (Foto: AG)

De uma hora para a outra, o aposentado Virgílio Pereira Santiago Filho percebeu que passou a ir ao banheiro com muito mais frequência. Incomodado com essa necessidade constante de urinar, ele resolveu procurar um médico e tomou um susto: ele tinha um tumor na próstata. “No início, foi um baque muito grande. Depois, encarei com mais coragem. O negócio é não deixar a cabeça ficar ruim e enfrentar a doença com o peito aberto”, conta o aposentado, hoje com 74 anos.

Virgílio passou por cirurgia para a retirada da próstata e meses de radioterapia. E há quase 10 anos se livrou do câncer e mantém todas as taxas sob controle. “Tirei a possibilidade de morte da cabeça, tomei os remédios e fiquei bom. Ainda tomo medicamentos e vou ao médico de três em três meses, mas está tudo controladíssimo”, conta.

Histórias como a do aposentado crescem no Estado. O câncer está se tornando uma doença cada vez mais comum. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), foram 12,3 mil novos casos no Espírito Santo em 2014 – mais de 33 diagnósticos todos os dias.

Proporcionalmente, os capixabas têm mais câncer do que o resto do Brasil. As taxas de incidência da doença em 2014 (por 100 mil habitantes) no Estado foram 23,56% maiores entre os homens e 10,41% maiores entre as mulheres do que a média nacional.

E, nessa comparação, a situação é ainda pior para a ala masculina. Dos 16 tipos de tumor avaliados pelo Inca em 2014, os homens no Estado têm uma incidência maior de casos do que a média nacional em 13 tipos. Só o câncer de próstata, que atingiu seu Virgílio, teve 25% mais casos no Espírito Santo no ano passado.

Motivos 

Mas por que isso acontece? Para o oncologista clínico do Centro Capixaba de Oncologia (Cecon) Loureno Cezana, esses números não são, necessariamente, uma má notícia como pode parecer à primeira vista. Em primeiro lugar, eles podem indicar uma preocupação maior dos capixabas com a saúde, o que faz com que eles procurem mais o médico e sejam diagnosticados com mais frequência. 

Além disso, o aumento do número de câncer está relacionado também ao aumento da expectativa de vida. Como muitos tipos estão ligados ao envelhecimento, como o câncer de próstata, quanto mais velha a população, maior a incidência da doença. 

“Por isso, a tendência é o número de casos de câncer aumentar. O tumor da próstata é parte do envelhecimento natural do homem. Se você fizer biópsia de todos os homens com 100 anos, quase todos terão câncer, mesmo sem qualquer sintoma”, explica Loureno.
 
Ainda segundo o médico, é preciso relativizar os números, pois nem sempre as notificações em algumas regiões do Brasil condizem com a realidade.

“Existem pessoas que morrem de câncer sem nunca terem sido diagnosticadas. Sabe-se que a doença é subdiagnosticada principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Então, o dado nacional nem sempre é confiável. Os números do Espírito Santo são muito parecidos com os da região Sul e o restante do Sudeste”, explica. 

O oncologista clínico do Núcleo Especializado em Oncologia (Neon), Cristiano Drumond Magalhães, concorda. “Há possibilidade de um método de registro ainda imperfeito e que, quando deparado com a nossa vivência diária, não reflete a plena realidade”, diz.
 
 
Eles x Elas

Essa dificuldade de registros em algumas regiões do Brasil pode, inclusive, explicar por que os homens no Espírito Santo têm um taxa de incidência maior de câncer em 16 dos 13 tipos avaliados pelo Inca em 2014. 

Mesmo significando que os capixabas estão se cuidando mais que o restante dos brasileiros (ou seja, como vão mais ao médico, têm um número maior de diagnóstico), eles ainda não cuidam tão bem da saúde quanto as mulheres.

“Existem estudos que demonstram que os homens buscam menos o auxílio médico. Eles têm mais medo de uma avaliação ‘ruim’. Na nossa prática diária, percebemos nitidamente que a mulher busca mais consultas com o objetivo de receber instruções e orientações e até mesmo para a realização de exames”, explica Cristiano Drumond.

Loureno ainda lembra que o maior número de casos entre os homens reflete hábitos que eram comuns há 20 ou 30 anos. “Esses números refletem os hábitos da geração anterior. O homem, por exemplo, tem uma chance quatro vezes maior de ter câncer de esôfago, que está muito ligado ao fumo e ao cigarro. Antes, eles bebiam e fumavam muito mais do que as mulheres. A tendência atual é que o homem se cuide mais e, por isso, acredito que, talvez, esses número caiam nos próximos 30 anos”, diz. 


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