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12/09/2017 às 22h44min - Atualizada em 12/09/2017 às 22h44min

Revoltados com domínio governista, senadores abandonam CPI da JBS

"Não vou participar dessa farsa", diz Ricardo Ferraço. Otto Alencar lançou suspeita sobre comando da comissão ligado a Temer

Gazeta Online

Se até ontem o governo dizia que sua prioridade era aprovar reformas no Congresso, a recém-criada CPI da JBS provou que o foco é outro: alvejar investigadores que emparedam os caciques do PMDB e denunciam o presidente Michel Temer (PMDB) por crimes de corrupção.

Revoltados, os senadores Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Otto Alencar (PSB-BA) se retiraram, nesta terça-feira (12), da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, logo após a indicação do líder da tropa de choque de Temer para ser o relator da CPI. O deputado Carlos Marun (PMDB-RS) já chegou dizendo que não terá medo de alvejar o Ministério Público e o Judiciário (que comandam a Lava Jato).

"Não vou participar dessa farsa, já pedi meu desligamento. Está evidente que essa CPI não é para investigar coisa nenhuma, é para fazer acerto de contas. Existem crimes gravíssimos a se investigar, e o parlamentar precisa se comportar como magistrado, precisa investigar com rigor, com dureza, mas com imparcialidade e isenção, e sem haver excesso", reclama Ferraço.

Instalada na semana passada no Congresso para apurar supostas irregularidades em empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao grupo J&F (que controla a JBS), a CPI é presidida pelo senador Ataídes Oliviera (PSDB-TO). O próprio Ataídes admitiu nesta terça que se reuniu com Temer e a cúpula do governo no Palácio do Jaburu. Na mesma residência oficial, um dos donos da JBS, o hoje preso Joesley Batista, gravou Temer numa conversa sobre suposto suborno em troca de silêncios sobre corrupção.

"Eu me reuniu com o presidente, fui chamado pelo ministro Antônio Imbassahy (PSDB-BA, secretário de governo) para discutir sobre a concessão de uma rodovia do meu Estado, e digo que vou conversar com o presidente quantas vezes for necessário sobre isso", justificou Ataídes.

Otto Alencar não engoliu nada e deixou o presidente da CPI falando sozinho. "É uma farsa, é uma CPI chapa branca, um jogo combinado para de alguma forma absolver os amigos e penalizar os adversários. E o testa de ferro do Temer na Câmara, o Carlos Marun, é o relator! Você acha que vai acontecer o que com o Temer? Absolutamente nada! Ele está envolvido na denúncia de corrupção da JBS, ele foi gravado!", protesta.

Para o senador baiano, Ataídes "decepcionou" na falta de isenção indo a Temer no Jaburu conversar sobre a CPI. Apontando fatos "gravíssimos", ele e Ferraço não querem passar recibo num jogo que parece combinado: "De que adianta ter oposição numa CPI para uma carta marcada?", questiona Otto.

Ferraço também sente cheiro de pizza no ar. Para ele, da mesma forma que um procurador da República não pode advogar, o que é criminoso, um parlamentar não pode se submeter a uma CPI de forma parcial. "À medida que você põe chefe de tropa de choque para fazer isso ou aquilo, para cumprir determinado papel, fica evidente que será parcial, e eu não participo disso", diz o capixaba.

CPI DO BNDES POUPA LULA

Também ontem, a CPI do BNDES teve uma reviravolta. Por acordo, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) acabou derrubando a convocação do ex-presidente Lula (PT), mas manteve a convocação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega (PT) e do ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho para explicar os financiamentos sigilosos.

Os requerimentos de convocação partiram do senador Lasier Martins (PSD-RS), que defende abertura da caixa-preta dos financiamentos sigilosos do banco a grandes empreiteiras investigadas. O PT, desesperado depois do cochilo e do atraso de dois senadores que permitiu a aprovação das convocações, aceitou manter Mantega e Coutinho no fogo para salvar o "grão-mestre Lula".

"A sociedade exige mais seriedade dos parlamentares. Não podemos permitir que se confirme o sentimento geral de que as comissões de inquérito não resultarão em nada, que acabarão em pizza", desabafou Lasier. "PT e PMDB não podem ficar com a relatoria das CPIs do BNDES e da JBS, pois são os mais interessados em não deixar esclarecer certos fatos. Não podemos correr o risco da desmoralização."


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